Freqüentemente associado às rebeliões estudantis, o ano de 1968 constitui um marco na história mundial. Ansiosa por liberdade e pela quebra da ordem social vigente, a juventude daquele tempo não esperou, fez acontecer. Analisar e refletir sobre esses acontecimentos geradores de transformações políticas, culturais e comportamentais foi o principal desafio da palestra de abertura do 6º Seminário Temático "Juventude e Política: 40 anos da queda do 30º Congresso da UNE".
O evento ocorreu no dia 10/10, com palestra proferida pelo professor Manoel Motta. O Seminário é parte dos eventos anuais realizados pelo Grupo de Pesquisa Educação, Jovens e Democracia. De acordo com o professor de Departamento de Filosofia da UFMT e doutor em educação, Manoel Motta, a geração de 68 nasce num contexto pós-guerra de conflito generalizado e as buscas por trás de suas lutas se dão por dois valores: paz e democracia. "Paz e democracia eram valores proclamados, mas não havia ações que os garantissem. Devido ao contexto histórico, de guerras e ditaduras, nenhum deles era exercido em sua plenitude", conta.
Para contextualização do público, o professor narrou os principais eventos ocorridos mundialmente naquele ano. Na França, por exemplo, o famoso "Maio de 68", segundo Manoel Motta "talvez a mais expressiva revolução, na qual estavam ao mesmo tempo valores existenciais e políticos", irrompia movimentos de protestos em universidades européias e americanas, ganhando fôlego ao conquistar o apoio da classe operária. Já na cidade do México, cerca de 300 estudantes morriam massacrados pelas forças armadas enquanto protestavam.
Na Tchecoslováquia, tanques militares eram enviados para reprimir os anseios por democracia. O destaque da palestra foi dado para as manifestações que ocorriam no Brasil nesse período. Segundo o professor, a luta política atingiu seu auge com a passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro, no dia 26 de julho. A manifestação contra a ditadura foi composta majoritariamente por estudantes e jovens, mas também contou com apoio de artistas e intelectuais. "As ações ocorreram no Brasil inteiro, mas essa passeata representou o momento de apogeu, de demonstração da insatisfação com a ditadura. Essa época marca o momento de resistência política mais expressiva", ressaltou.
Ainda sobre a ditadura, Manoel Motta acrescentou que duas eram as vertentes existentes neste período: a luta armada e a por via institucional. A primeira era formada por organizações que acreditavam que somente o enfrentamento poderia vencer a ditadura. Assim, seqüestros eram freqüentemente utilizados na tentativa de obter a liberdade de presos políticos. A segunda ganhou força a partir de 74, com a vitória política do Movimento Democrático Brasileiro (MDB). "A partir de 74, com a vitória política do MDB, vai ocorrer o fortalecimento da luta institucional pela via parlamentar.
Os debates começam a ser mais expressivos, as organizações pedem anistia para os presos políticos e há reorganização do Movimento Estudantil.", explica o professor. Experiência vivaUm dos momentos fortes da palestra foi quando o professor contou sua própria vivência nos tempos de ditadura e narrou o desaparecimento de seu amigo Ramires Maranhão do Vale. "O Ramires era meu vizinho, morávamos no mesmo bairro e pegávamos o mesmo ônibus. Eu ia pro colégio estadual de Pernambuco e ele para o Salesiano. O Ramirez era envolvido no Movimento Estudantil e nós debatíamos muito sobre como enfrentar a ditadura", lembra.
O professor também recordou a diferentes posições políticas assumidas pelos dois e revelou o trágico desfecho que Ramirez teve nas mãos da ditadura. "O Ramires era muito rebelde e independente e sempre se posicionava a favor de enfrentar a ditadura pela via armada, e eu naquela época já considerava que esse não fosse o melhor caminho. Logo em seguida, o Ramires desapareceu, entrou na clandestinidade. Só ouvi falar do meu amigo Ramires no final de 1978, no período de luta pela anistia, quando ele foi colocado na lista de desaparecidos. Ele até hoje continua nela", conta.
Otimismo
Após traçar todo o processo da época ditatorial até a chegada das Diretas Já, o professor Manoel Motta se posicionou a favor da defesa da paz, da democracia e do socialismo, além de demonstrar otimismo em relação ao atual quadro político de luta. "Hoje você tem a liberdade de partido, a liberdade de expressão", afirma.
Para Motta, vivemos um momento fértil de ampliação da democracia. "Atualmente, temos tanto uma esquerda, como uma direita que lutam democraticamente. A direita brasileira sempre foi golpista, sempre defendeu o fim da liberdade democrática e tinha uma posição autoritária. Agora a direita utiliza mecanismos que podem até ser criticáveis, mas que são no campo democrático".
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*Da Redação/ Inara Fonseca
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