Logo após a homenagem, a 12ª sessão da Caravana da Anistia julgou seis perseguidos políticos, presos no 30º Congresso da UNE realizado em Ibiúna, onde mais de 700 estudantes foram presos
O dia 10 de outubro foi de recordações. Lembranças de um período de exceção do Estado brasileiro rememorados por quem, naquele período, estava na linha de frente na luta contra a ditadura.
Reunidos na Estação Pinacoteca, prédio onde funcionava o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e que hoje abriga o Memorial da Resistência, nomes como Jean Marc van der Weid, que presidiu a UNE em 1969/71, José Dirceu, José Genuíno, Paulo Vanuchi, Alberto Goldman. Em comum, os presentes no ato realizado nesta sexta (10) em homenagem aos estudantes presos no 30º Congresso de Ibiúna, carregam na memória marcas do enfrentamento com militares. Uma luta em defesa da democracia, como disse o ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi.
"Essa geração saúda a juventude de 68 que garantiu as liberdades democráticas para que nós, os jovens de hoje, possamos lutar por um país mais justo, igualitário e desenvolvido. Hoje também é um dia para se lembrar que um dos primeiros atos da recém instituída ditadura militar foi incendiar a sede da UNE, na Praia do Flamengo (RJ), pois a Casa do Poder Jovem era um símbolo da força dos estudantes", recordou a presidente da UNE, Lúcia Stumpf, que em seu discurso deu voz a uma reivindicação que ecoa em todo o movimento social. "A abertura dos arquivos da ditadura se faz necessária para que o povo conheça sua própria história", reafirmou.
O secretário de justiça e defesa da cidadania do estado de São Paulo, Luiz Antonio Marrey ressaltou o simbolismo do fato de o Memorial da Resistência ocupar o mesmo espaço antes marcado por atos de tortura. "Transformar esse local de referencia à história daqueles que lutaram por um país mais justo e livre é uma celebração à democracia".
Depois de recordar o funcionamento do prédio na época do DOPS, Vanuchi reforçou a importância de investigar casos de torturas e desaparecimentos, como o de Honestino Guimarães, ex-presidente da UNE, que hoje completa 35 anos. "É preciso sim punir os responsáveis em memória da verdade".
Para Alberto Goldman, vice-governador de São Paulo, que foi ao ato representando José Serra, que presidiu a UNE em 1963/64, "recordar esse período é fundamental para que se mantenha viva a consciência do que representou o regime ditatorial".
12ª sessão da Caravana da Anistia julga seis estudantes preso no Congresso de Ibiúna
Logo após a homenagem aos participantes do 30º Congresso da UNE realizado em 12 de outubro de 1968, na cidade de Ibiúna, interior de São Paulo, aconteceu a 12ª sessão da Caravana da Anistia.
Os anistiandos: Marcos José Burle de Aguiar, Américo Antonio Flores Nicolatti, José Miguel Martins Veloso, Luiz Felipe Ratton Mascarenhas, Darci Gil de Oliveira Boschiero e João Mauro Boschiero. Todos presos no Congresso de Ibiúna.
Para o presidente da Comissão da Anistia, Paulo Abraão, a anistia a perseguidos políticos é um direito fundamental e constitucional dos que passaram pelos porões da ditadura. "Não há nenhum tipo de beneficio, é sim direito", resumiu, contundente.
"Nós estamos fazendo uma reversão na cultura jurídica e política deste país. Tortura não é crime político. Dizer isso é o mesmo que equipar o Estado ao mais cruéis criminosos", disse o ministro da Justiça, Tarso Genro.
Em sua declaração, o ministro da comunicação Social, Franklin Martins relatou que tem muito orgulho de ter lutado naquele período. "Às vezes, dependendo da circunstância, é preciso lutar independentemente de ganhar ou perder. Esse é o grande legado da geração de 68: a luta incansável pela democracia. Nós lutamos pela e vencemos por isso. Não nos conformamos com opressão mesmo quando ela parecia imbatível".
Jean Marc van der Weid completou. "O Congresso de Ibiúna foi uma das demonstrações mais contundentes da democracia do movimento estudantil. Um espetacular movimento, que naquele momento mostrava a nítida diferença entre os que estavam ao lado da ditadura e os que lutavam pela democracia".
"Essa iniciativa resgata a memória histórica deste país. É uma forma que garantirmos que nossos filhos não passarão pelo que nós passamos. Ditadura nunca mais", disse o secretário adjunto da cultura de São Paulo, Ronaldo Bianchi.
Também foram inaugurados dois painéis em homenagem à data: um com as fotos dos 23 estudantes mortos durante a ditadura militar e outro com a lista dos 719 presos durante o Congresso da UNE em Ibiúna. As obras estão em exposição na Estação Pinacoteca.Fonte: www.une.com.br
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