3 de setembro de 2008

UNE: voltando para casa

UNE: voltando para casa
*Por Bruno Elias

No primeiro dia de abril de 1964, em um dos primeiros atos da ditadura civil-militar, a União Nacional dos Estudantes teria sua sede metralhada, invadida e incendiada. Em 1980, o que sobrara daquele antigo prédio da Praia do Flamengo ainda seria demolido. No último dia 12 de agosto, 44 anos após os primeiros ataques, em visita ao mesmo terreno, ocupado pela UNE desde 2007, o presidente Lula anunciou o reconhecimento de que o Estado brasileiro é responsável pela destruição da sede da UNE, permitindo sua reconstrução através de indenização proposta em lei.
O projeto de lei do executivo enviado ao Congresso Nacional prevê a criação de um grupo de trabalho interministerial para estudar e apresentar uma proposta de valor da indenização, cujo teto seria de R$ 36 milhões (correspondente a cinco vezes o valor do terreno – R$ 6 milhões).

Lula é o segundo presidente da república, depois de João Goulart em 1962, a visitar a sede da UNE ao longo dos seus 71 anos. Esta conquista inicial deve ser acompanhada de uma mudança de caráter da campanha da UNE pela reconstrução da sua sede. A necessária pressão sobre os parlamentares para a aprovação do projeto de lei não pode ser motivo para reduzirmos esta luta apenas aos canais de diálogo institucionais.

A campanha de reconstrução da sede deve ir além dos jantares caros, das reuniões com autoridades ou das famigeradas parcerias publicitárias com a Rede Globo. Esta campanha deve ser assumida como sua pelos estudantes, ganhando um caráter politizado, de massas e estimulando um processo de arrecadação militante e de envolvimento do conjunto das entidades estudantis.

Num momento em que a sociedade brasileira retoma, ainda que de maneira tímida, o necessário debate sobre o alcance de instrumentos como a lei de anistia e a conseqüente punição dos torturadores do regime militar, também percebemos na reconstrução da sede da UNE a oportunidade rara de fazermos um debate ainda maior.
O momento exige a luta incondicional por um direito que tem sido historicamente negado ao povo brasileiro: o direito à memória e à verdade. Uma luta que ainda passa pela inadiável abertura dos arquivos da ditadura e que, pela reação dos militares e dos demais setores conservadores da nossa sociedade, continua aberta no país.

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