Camaradas,
Primeiramente, registro os limites que tivemos em enviar de informes mais precisos durante a última semana em relação à ocupação da UFMS. Infelizmente nosso tempo e acesso a internet eram muito limitados.
Como registrávamos em outra mensagem, a ocupação da UFMS desde o início enfrentava grandes desafios. Além da truculência e autoritarismo da reitoria da instituição, o movimento de ocupação enfrentava um problema objetivo: construir um processo de mobilização e enfrentamento que conseguisse derrubar num primeiro momento a resolução do COUN (Conselho Universitário) , que definia as eleições para reitor no último dia 25 de agosto (véspera do único feriado do semestre em Campo Grande !) para que pudéssemos retomar em melhores condições a luta central pela Paridade.
Durante a primeira semana de ocupação, o movimento apostou na divulgação massiva das pautas da ocupação e na articulação com outros setores da sociedade. A ocupação recebeu vários movimentos sociais, lideranças políticas, religiosas e culturais, o que ampliou o respaldo da ocupação perante a sociedade. Outra frente articulada foi a organização interna da ocupação, com as comissões sendo estruturadas (segurança, negociação, comunicação, limpeza, cultura e arte, etc.).
Na segunda semana, o movimento ganhou corpo. O número de pessoas ocupando a reitoria e/ou acampada aumentou e foi realiza na terça-feira a maior assembléia da ocupação. Mais de 600 estudantes definiriam em assembléia com a presença dos servidores técnico-administrati vos paralisação total das aulas e atividades durante a quinta-feira, data que coincidia também com o dia de paralisação nacional da FASUBRA contra o PLC 92. Ademais, desde o início da semana vários cursos e campi tinham decidido paralisar as aulas, ainda que por distintos períodos.
Importante registrar que a luta imediata pelo cancelamento das eleições e pela paridade foi apenas o estopim de várias reivindicações estudantis até então reprimidas. Ao longo dos dias, uma série de denúncias contra a administração da Universidade foi aparecendo (improbidade administrativa envolvendo fundações, nepotismo, superfaturamento de obras, etc.), o que revelou que para além da falta de democracia, a UFMS vive uma crise institucional ainda mais grave.
Com este cenário, foram sendo criadas as condições para construirmos ações mais radicalizadas, que respondessem a demanda imediata que nos pressionava que era a eleição marcada para a semana seguinte. Foi desta forma que, após assembléias da ocupação e reuniões da comissão de segurança, decidimos ampliar a ocupação para a totalidade do prédio da reitoria. Essa ação teve repercussão imediata, provocando a presença da polícia federal e tentativas de reabertura das negociações.
O reitor se negou a negociar e ainda entrou com pedido de reintegração de posse na justiça, sendo atendido de pronto por um “solícito” juiz local. Na decisão, era estipulada uma multa de R$ 10 mil, em caso de desobediência e outros R$ 5 mil para cada dia de ocupação mantida. Em assembléia da ocupação realizada no mesmo dia (sábado), os estudantes decidiriam pela desocupação da reitoria, compreendendo que o movimento entrava numa nova etapa e era preciso ampliar outras frentes de luta para além da ocupação.
Detalhe importante é que após 17 dias, a desocupação naquele momento não era um recuo em relação a reitoria ou a decisão judicial. A partir dali, tratava-se de pensar em outros instrumentos mais contundentes que conseguissem impedir a realização das eleições e a retomada do debate da paridade.
Esta decisão se mostrou acertada e como vitória imediata, o reitor foi obrigado a cancelar as eleições do dia 25 de agosto! Referendou esta decisão em reunião extraordinária do Conselho nesta terça-feira, remarcando as eleições para o próximo dia 02 de setembro.
Desde então, os estudantes continuam mobilizados. Uma comissão do movimento foi à Brasília e se reuniu com representantes do MEC, deputados e senadores para que houvesse uma intervenção em relação ao conjunto de denúncias contra o reitor. Na universidade, o ME continua se mobilizando e durante a próxima semana mais ações estão sendo construídas para garantir a apuração das denúncias e que as próximas eleições sejam paritárias.
Talvez mais detalhes tenham faltado a este informe sintético. Tive que retornar a São Paulo essa semana. Em resumo, é isso: após 17 dias de ocupação, o movimento estudantil da UFMS constrói um inédito processo de lutas naquela universidade. Um movimento que já é vitorioso na medida em que já conquistou vitórias importantes como a derrubada das taxas na universidade e o cancelamento por duas vezes das eleições para reitor, mas que se mantém mobilizado por mais vitórias e conquistas.
Saudações Estudantis,
Bruno Elias
1º Vice Presidente da UNE
30 de agosto de 2008
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